O candidato à presidência da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, destacou hoje a “presença vibrante da juventude e de figuras históricas do partido” angolano, no lançamento da sua campanha e lamentou os “ataques diários” (por parte do MPLA, no Poder há 46 anos) ao Estado de Direito.
Um dia depois de lançar a sua campanha à liderança da UNITA, o maior partido na oposição que o MPLA (ainda) permite em Angola, no XIII Congresso, que se realiza de 2 a 4 de Dezembro, Adalberto da Costa Júnior disse estar “muito satisfeito” pelo apoio.
“Fizemos sim o lançamento da campanha, felizmente esteve cheia e vibrante, muita juventude, mas também muitos testemunhos dos mais velhos com história feita ao longo destas dezenas de anos, porque foi com grande satisfação que vi a presença de uma geração de fundadores do partido dos anos 50, 60, 70”, disse.
O político, que dirigiu a UNITA nos últimos dois anos, após ser eleito em 2019 durante o XIII Congresso, foi afastado recentemente da liderança do partido na sequência de um acórdão ditado pelo MPLA e subscrito pelo Tribunal Constitucional (TC) que anulou todas as deliberações do conclave, situação que forçou o regresso do anterior presidente, Isaías Samakuva.
A campanha visando o congresso de Dezembro próximo teve início na quarta-feira e Adalberto da Costa Júnior, candidato único, diz-se satisfeito pela adesão e apoio de figuras históricas do seu partido, jovens, membros da sociedade civil que manifestaram “testemunhos fortíssimos”.
“Uma segunda geração, da altura da adesão à independência, a fazerem testemunhos fortíssimos, mas também a última geração de 2002/03, com várias intervenções e não deixei de estar felicíssimo por uma presença vibrante do partido que esteve em força com canções lindíssimas para mim”, frisou.
No ato formal de lançamento da campanha de Adalberto da Costa Júnior, que decorreu no complexo do Sovismo, município de Viana, em Luanda, destacou-se a ausência do actual presidente de transição, Isaias Samakuva, o que para o candidato não constitui motivo de preocupação, considerando que este “muito provavelmente queria dar a ideia de alguma isenção”.
“Porque nós vamos ter uma acção de votação, mesmo com candidatura única, apesar de contra a minha vontade nós não termos outros candidatos, e aquilo que a UNITA tem feito tem sido proporcionar liberdade de pronunciamento”, sublinhou.
A “abertura vibrante” do acto, com a presença do cantor e compositor angolano Eduardo Paim, também foi enaltecida pelo candidato, saudando sobretudo “a coragem” do músico, “num país que infelizmente se está tão distante da pluralidade e do Estado de Direito”.
Adalberto da Costa Júnior, que manifestou igualmente satisfação pelo peso das presenças de membros de outros partidos na oposição e de líderes religiosos, diz-se encorajado, lamentando, porém, os “ataques diários” ao Estado democrático “que tem sido abatido todos os dias nos actos, na utilização das instituições, na tentativa de escolha de adversários políticos”.
O XIII Congresso da UNITA acontece nos dias 2, 3 e 4 de Dezembro próximo em Luanda, com candidatura única. Pedro Mulemba, militante da UNITA, manifestou intenção de se candidatar, mas não formalizou a sua candidatura por não reunir os requisitos necessários.
Adalberto da Costa Júnior considerou que o acórdão do TC, que o afastou da liderança da UNITA, teve consequências para a imagem de João Lourenço, Presidente angolano, garantindo estar “sólido” na sua candidatura e a dar “passos seguros no cumprimento escrupuloso do Direito”.
“O que posso reafirmar é o cumprimento escrupuloso do Direito, dos estatutos no plano interno e seguro em absoluto de que nós estamos a dar passos dentro do Direito e as opções do Estado não me compete a mim fazê-las”, realçou.
“Mas estou sólido de que outros actos terão consequências enormes de exposição”, apontou.
O candidato criticou igualmente o que denomina de “uso abusivo dos Estado” nas instituições de justiça, dos serviços de inteligência, “de ter instituições de uma ilegalidade extrema a funcionarem na presidência da República, pagas com dinheiro público, para combater a oposição política”.
Segundo o também deputado, nenhum espaço de independência de opinião em Angola aplaudiu o acórdão do TC, afirmando que foi apenas por uma insistência da via do diálogo que impediu o seu partido de entrar com processos junto da instância judicial.
“Porque embora este tribunal tenha mostrado o facto de ser absolutamente instrumental, não deixa de fixar sob pressão aos seus próprios actos, repare-se que quem desmontou o acórdão não foi a UNITA, foram os professores universitários, as universidades de Angola, os grandes advogados e constitucionalistas”, frisou.
A UNITA, enquanto instituição “que se sente penalizadíssima por violações ao seu direito, à Constituição, também tem necessidade de futuramente garantir que temos que caminhar dentro das balizas das leis, dentro do espaço de protecção, igualdade e universalidade que não se cumprem hoje”, rematou.
Eis, na íntegra, o discurso de ACJ
«Angola tem a oportunidade de construir uma Nova Solução de governação.
Compatriotas e correligionários, papás, mamãs, minhas irmãs, meus irmãos, juventude da nossa mãe Angola.
Eu sou o vosso irmão Adalberto Costa Júnior, membro da UNITA desde 1975.
Venho, em nome de co-fundadores da UNITA, homens, mulheres e jovens de várias gerações do Projecto de Muangai e de distintos extratos da sociedade, partilhar uma visão, um sonho, um caminho e uma proposta de solução para a construção de um novo país.
Por respeito ao nosso passado, por absoluta determinação de rejeitar o fatalismo e o presente de pobreza e exclusão, por inconformismo e por amor ao nosso futuro que queremos de liberdade, dignidade e prosperidade, estamos aqui para relançar as bases da caravana da alternância do poder!
Chegou a hora de resgatar os nossos valores. A começar pelo que diz a nossa Bandeira: Lá está, altivo, o nosso Galo; Lá está o Sol nascente, com os seus raios convidando-nos para a marcha, clamando a nossa união na diversidade; Símbolos da terra, que falam dos sonhos dos nossos mais velhos e bravos fundadores; Um Galo Negro e um Sol que anunciam o alvorecer de um novo dia.
Nunca tivemos medo de acreditar em dias novos e melhores. Desde Muangai, fomos movidos por esta fé, por esta ousadia e por esta confiança. Foi assim que lutamos por uma Angola independente e democrática sob a liderança do Dr. Jonas Malheiro Savimbi. Foi pelo mesmo motivo, que desafiamos a tirania do partido único, ao preço de muitas vidas, de vidas valorosas que hoje fazem muita falta. Por uma nova Angola pegámos em armas e soubemos avançar pelo caminho da paz. É pela mesma causa – Angola de todos, que temos de arregaçar as mangas e caminharmos juntos na cidadania e pela cidadania.
Olhemos ao nosso redor, hoje, passados quase 20 anos de paz, Angola está muito longe de ser a pátria que sonhamos para o nosso povo. A pobreza, a injustiça social e económica e a exclusão ainda afligem milhares de angolanos. Falta de tudo na vida das nossas famílias: comida à mesa, escolas, médicos, a dignidade de um trabalho. Falta água na torneira, em fim há falta de esperança nos nossos rostos dos angolanos, enquanto alguns banham-se em suas piscinas de ouro, esbanjam riqueza aos olhos dos homens e aos olhos de Deus. Não foi com isso que sonhamos. Não foi para isso que Jonas Savimbi, Holden Roberto e Agostinho Neto assinaram Alvor.
O nosso Mais Velho tombou, depois de uma vida inteira de luta por Angola e pelos angolanos.
A democracia e a paz são compromissos definitivos dos quais nunca desistiremos. E, por isso, mesmo, exigem de cada um de nós novos esforços e sacrifícios. O nosso Galo mais uma vez nos convoca, o nosso Sol mais uma vez nos ilumina, para seguir um novo caminho, numa nova etapa para uma nova dinâmica.
Nós, angolanos, somos descendentes de gerações de obreiros incansáveis que se dedicaram sem limites, de corpo e alma, na construção das raízes do nosso passado, que fazem de nós, um rico mosaico sócio-cultural.
O Sr. General Lukamba Paulo Gato foi a pessoa que nos conduziu com audácia, lucidez e firmeza quando em 2002 o nosso Presidente fundador e o nosso Vice-Presidente António Dembo tombaram. Em 2003, sob liderança do Presidente Samakuva iniciamos um longo e difícil processo de transição que culminou em 2019. O Presidente Samakuva merece o nosso respeito e a nossa gratidão!
Cada liderança, cada geração e cada quadro tem, no seu tempo, a sua missão, por isso, precisamos avançar e superar tudo aquilo que ainda hoje limita os nossos sonhos e as nossas acções.
Até quando os nossos sonhos vão continuar adiados? Até quando a nossa esperança vai continuar moribunda? Até quando as crianças vão continuar sem escolas? Até quando os jovens vão continuar sem emprego? Até quando os direitos e liberdades fundamentais vão continuar condicionadas pelo regime? Até quando as nossas crianças, futuro da nação, vão continuar a alimentar-se dos contentores de lixo? Até quando os nossos papás vão continuar com pensões de miséria? Até quando os ex-militares vão continuar na indigência? Até quando Angola vai continuar de mão estendida à caridade internacional? Até quando o patrimônio do nosso Partido vai permanecer confiscado pelo Estado? Até quando a juventude vai deixar de emigrar por melhores condições de vida? Até quando?
O regime segue incapaz de resolver os graves problemas políticos, sociais, económicos e culturais.
Pela sensibilidade humana, pelo patriotismo, pela solidariedade, pela justiça social, pelo chamamento da Pátria nos disponibilizámos a liderar este património dos angolanos, erguido em Muangai, em 1966, a UNITA.
Estamos aqui para dizer prontos à convocatória da cidadania!
É preciso saber reconhecer quando um ciclo está esgotado e devemos iniciar um novo ciclo.
É preciso reconhecer quando um ciclo se esgota, para que um novo ciclo se possa iniciar.
O país convoca-nos para uma missão ingente, por isso, a partir de agora temos de ser melhores. Precisamos de somar e renovar as nossas energias, para que a UNITA seja um partido cada vez mais presente e relevante na vida dos angolanos, o partido das transformações que o nosso povo tanto anseia. Para isso, temos que dar, nós mesmos, o exemplo de revigoramento. Em primeiro lugar, não podemos mais ser vistos, como meros espectadores, reclamantes e vítimas da má governação, sem fim no horizonte temporal. É isso que o regime quer de nós: actor secundário, tímido, que serve apenas para melhorar o rosto de uma democracia falsa, cheia de abusos e imperfeições, de um Estado de Direito Democrático na letra da Constituição, mas inexistente na realidade. Um Estado onde o Direito foi deitado fora e o poder judicial se tornou instrumento das “ordens superiores”.
Precisamos de ter a noção exacta da amplitude da nossa força como cidadãos, merecedores de uma vida digna e impedirmos continuar a sermos escravos da miséria na nossa própria pátria.
Não nascemos para permanecer na miséria, na periferia da política, enquanto quem governa se perpetua no poder, manipulando instituições, dados e informações, usando a força contra o povo, prendendo jovens idealistas, disseminando a corrupção, comprando pessoas, mas não a consciência dos angolanos de bem. Os mesmos governantes há 46 anos, seguem presos aos vícios do passado. Deles mais nada de melhor podemos esperar como povo que aspira um futuro de dignidade e prosperidade. Cabe a nós avançarmos na construção de um novo país, este país, sonho maior dos nossos heróis e mártires a exemplo de Kafundanga, Hoji Ya Henda, Polé Polé, Gaio Kakoma, Samwimbila, Makanga, Samanjolo, Kapakala, Dembo, Chitunda, Salupeto Pena, Consagrado, Bula Matadi, Kulunga, Mango, Jaka Jamba, Jerónimo Wanga, Chilingutila, Raul Danda, Vatuva e muitos outros que a Pátria jamais esquecerá.
Nós, angolanos de todas as matizes, estamos cansados. Estamos esgotados da miséria, da pobreza, e estamos esgotados da falta de perspectiva na governação.
O medo do presente e a incerteza do futuro, é hoje um denominador comum nas nossas vidas. Cada um de nós ora noite e dia pedindo graças à Deus, para que as doenças não penetrem nos nossos lares, pois 46 anos depois, não temos hospitais com serviços de qualidade que nos garantam confiança de sermos muito bem tratados.
Todos queremos a mudança. Todos precisamos de mudar Angola.
O nosso povo está esgotado. O nosso povo quer mudança.
A UNITA é a mudança!
Nós somos a mudança. Nós somos a alternativa credível para a construção de uma Angola justa e plenamente democrática. Quanto maior for a participação dos cidadãos e da sociedade civil, mais forte e vibrante a Democracia!
A UNITA é património de todos os angolanos, por isso, assume-se como o estuário de vontades e inteligências de patriotas e democratas que se identificam com o ideal de justiça social e económica, inspirado pelo projecto de Muangai.
Vamos repetir o XIII Congresso Ordinário, marcar o reinício de um novo tempo no nosso País, para transmitir à sociedade angolana uma mensagem de confiança e determinação: não mais admitiremos interferências políticas por intermédio do poder judicial!
Como angolanos e patriotas, exigimos respeito à nossa história, aos nossos líderes, heróis e mártires, às lutas que travámos e aos acordos que firmamos pela Paz, porque tudo isso é parte inseparável da história de Angola.
Desde 2020 que o país está numa trajectória acelerada de destruição dos fundamentos e referentes do Estado de Direito Democrático. O partido Estado sequestrou os Órgãos de Soberania do Estado, os Serviços de Inteligência deixaram de defender o Estado e servem escandalosamente os interesses de uma minoria, os órgãos de Comunicação Social públicos estão em agonia, a economia afirmou-se clientelar e os concursos públicos desapareceram, enfim, a nossa independência foi traída. Em Agosto de 2022, Angola tem a oportunidade de construir uma Nova Solução de governação fundada na valorização do quadro nacional; vamos mostrar pelos quatro cantos de Angola e do mundo que nós temos projectos para orientar e governar o nosso país. Temos feito com abnegação o nosso papel de oposição num quadro de falta de convicções democráticas da liderança do regime e num ambiente de perseguição aos adversários políticos. A falta de diálogo, a vingança e a perseguição tornaram-se alfabeto do poder.
Assumimos o compromisso de realizar com todos e para todos a Pátria de liberdade, una, dialogante, reconciliada, congregadora, democrática, próspera, livre do medo, da pobreza e da corrupção.
A transparência, a boa governação, a accountability e a integridade são os valores da nossa acção.
Queremos um país diferente; um país economicamente forte.
Ouvimos o clamor das crianças, compreendemos o sentimento das nossas mamães e encarnamos a voz das várias gerações de angolanos temperadas por longos anos de lutas e desiludidas pela mesmice da governação.
Sempre que Angola precisou, sempre que a história do nosso Partido exigiu, soubemos enfrentar os desafios, escolher novos caminhos e estimular o espírito criativo. Por uma UNITA mais forte e resiliente; por uma nova Angola, é que estamos unidos nesta candidatura.
A UNITA pode mais! É hora do nosso Galo cantar mais alto! É hora do nosso Sol brilhar mais forte, anunciando a chegada de um novo dia!
Vamos juntos, de mãos dadas, mostrar que somos diferentes e fazemos diferente. Em primeiro lugar os angolanos, em segundo lugar os angolanos, em terceiro lugar os angolanos. Os angolanos sempre.
Para a alternância, Muangai é a nossa inspiração e a unidade nacional é o nosso objectivo estratégico!
Com a UNITA, podemos!
Que Deus proteja Angola.»
Folha 8 com Lusa